Bombardeio em câmera lenta
Poesias Selvagens #01 - Sobre aqueles dias que a gente acorda sentindo que tem algo errado, mas não sabe dizer o quê.
acordei com uma bomba
que não explodiu ainda
lá no canto do quarto,
impenetrável e rígida
pronta pra destruir tudo
que eu já conheci um dia.
conforme o tempo vai passando,
mais aumenta minha agonia
sem clarão, nem explosão
é uma bomba de rotina:
acordar, temer pela minha vida,
sonhar em me libertar um dia,
afirmar que ela não vai
me pegar desprevenida,
sempre pronta, sempre alerta,
desperta pra qualquer sinal,
qualquer indício de que a ameaça
está em curso de ação.
o que se encontra entre
o imaginário e o real
é uma angústia abissal
de pensar quando essa bomba
vai selar o meu final,
mas esse é o truque dela:
a tortura no umbral
os dias todos são iguais,
de uma aflição infernal
e a bomba que não explode,
mas que também não some,
que vai brincando com a chance
de causar a minha morte
e que ao invés de explodir
aos poucos me consome.
é o pior tipo de morte
todo dia um pouquinho
queria eu ter a grande sorte
dessa bomba finalmente
me fazer em pedacinhos.