Entre o óbvio e o nunca visto
A atenção é crucial: um texto curto para voltarmos aos eixos.
“Eu disparo e paro no infinito
Reabasteço, sigo em frente e é bonito
Viajo pelo espaço e o que eu vejo, eu deixo escrito
E só Jah Jah pode me dar um veredicto”
— From Hell do Céu, Black Alien
Quando dei uma pausa nesta newsletter alguns meses atrás, eu não queria demorar muito para voltar. Só que simplesmente não consegui escrever nada, mesmo cheia de coisas dentro de mim, coisas que eu queria falar, precisava colocar pra fora, dar à luz as minhas ideias. Eu passei meses sem conseguir encontrar palavras, vítima da síndrome da página em branco.
Isso me levou a buscar novas referências, inspiração e alguns muitos livros sobre criatividade e escrita. A partir disso, comecei a reparar mais em como funciona o processo criativo.
Desde que comecei a escrever, há bastante tempo, eu funciono como uma ostra: um incômodo, uma sujidade, um pensamento inquietante me invade e eu me fecho para lapidá-lo até o transformar numa pérola, um texto, uma poesia. Descobri que isso só é possível quando estou prestando atenção nas coisas dentro e fora de mim. A realidade objetiva é a matéria-prima mais rica da qual se pode extrair ideias, seja para conta-las como fatos, para moldá-las como quiser ou para subvertê-las e a partir daí criar algo totalmente novo.
Quando cheguei nessa conclusão, precisei parar para fazer uma autoanálise. De fato, eu não estava prestando atenção em muita coisa, andava meio desconectada da realidade e de mim mesma. Vinha evitando processar o mundo ao meu redor, fazendo bem pouco, constantemente me distraindo e ocupando a mente com tudo pra tentar não pensar em nada. Enrolada num ócio lúgubre perdida nos algoritmos labirínticos das redes sociais. Não dá pra escrever de cabeça vazia, né?
Ser escritor é tomar nota da vida: se deixar envolver por uma sacola que passa voando arrastada pelo vento, ou pelas luzes dos prédios que fazem a linha do horizonte aqui nessa babilônia moderna onde eu moro. É extrair o fantástico de situações banais, condensar ódio em poesia, discorrer uma miríade de palavras sobre uma pedrinha a toa na calçada, inventar toda uma história de vida com paixão, tragédia e conflitos para o rapaz distraído no ponto de ônibus.
Desde então, tenho experimentado prestar mais atenção na vida ao meu redor que, mesmo caótica, ainda é incrível — e o que não é, tem o potencial para se tornar, depois de passar pela alquimia que do olhar-escritor, transitar entre o óbvio e o nunca visto, como fazia Leminski. Hoje tento estar presente e nomear as horas do meu dia ao invés de apenas deixa-las passar em branco, procuro desvendar os personagens que cruzam meu caminho e tento enumerar os acontecimentos diversos que poderiam ser o prólogo de um algo mais.
Escrevo um diário, cujo conteúdo planejo compartilhar parcialmente com os subscritores pagos dessa publicação. Tenho uma lista de leituras e temas de interesse. Tenho projetos em andamento. Me sinto próxima de mim porque escrever e todo processo envolvido no desenvolvimento de um texto são partes intrínsecas de quem eu sou. As coisas ficam claras quando as coloco no papel, quando me deixo exercitar meu olhar-escritor, que nunca é um olhar passivo.
A inspiração não vem para os distraídos, muito pelo contrário, vem para os atentos.
Essa música do Black Alien que eu citei no início do texto foi a principal inspiração para nomear essa nova fase da newsletter. Provavelmente é o meu disco favorito, o Babylon by Gus vol. 1.
Me aguarde na sua caixa de entrada em quartas feiras alternadas com as Notas da Babilônia.
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💡 Hints da vez:
🎶 Obviamente vou deixar a recomendação de Babylon by Gus vol. 1. Simplesmente um dos melhores discos de rap já feitos.
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