Eu amo escrever desde cedo, comecei mais ou menos com doze ou treze anos quando conheci os sites de fanfic e descobri ali um universo inteiro ao meu alcance. Vários na verdade, eu fazia parte de vários fandoms diferentes, principalmente de livros. Sempre gostei muito de ler e nessa época eu era apaixonada pelas principais sagas que faziam sucesso com os jovens, como Harry Potter, Percy Jackson, Jogos Vorazes, Fallen, Divergente… minha cabeça simplesmente explodiu quando eu descobri que podia escrever o que eu quisesse com os personagens que eu amava, dar outro final aos que senti terem sido injustiçados, unir casais improváveis e muitas outras coisas incríveis que só dependiam da minha imaginação. Fui arrebatada por esse poder, tão arrebatada que logo comecei a criar meus próprios personagens, inserir nas histórias que amava para interagir com aqueles universos todos com os quais eu sonhava e lia avidamente.
Aquele que tem por vício a leitura, droga alucinógena das mais leves, acabará cada vez mais dependente dela. E o pior, passará para drogas mais pesadas, como a escrita. Nesta fase crítica, o leitor, agora escritor, tende a fugir regularmente da realidade e ter devaneios de que, assim como Deus, é criador de universos inteiros. (Jefferson Luiz Maleski)
Logo, isso já não era suficiente e eu precisava inventar as minhas próprias histórias, criar minhas próprias regras, personagens e conflitos, meus próprios universos com seus deuses, vilões, heróis e seres fantásticos. Com o tempo, a escrita se tornou uma constante na minha vida e eu comecei a me envolver mais intimamente com ela. Para além de histórias inventadas e universos fora da nossa realidade entediante, comecei a escrever para me expressar sobre coisas que eu não conseguia falar a respeito, escrever meus sentimentos mais secretos e indigestos em textos e poemas, alguns mais pessoais, outros menos, mas todos muito parte de mim.
Nem todos os textos dessa época são dignos de orgulho até os dias de hoje, claro, eu era uma criança, mas todos foram essenciais para construir a minha persona literária, para passar por fases difíceis da adolescência e para me entender melhor como pessoa. Não seria um terço do que eu sou hoje se não fosse pelas coisas que eu escrevi durante a minha vida, as ideias que tive e os sentimentos que só consegui descobrir depois de colocá-los no papel. Embriaguei minha criança criativa com todas essas possibilidades, com um mar de ideias no qual eu naveguei pelos meus anos mais tenros, cultivei esse espírito criador e usei ele pra me libertar durante os anos de adolescente de uma maneira que eu nunca consegui por outros meios.
Eu escrevo muitas ideias que não uso, personagens que não veem a luz do dia, começo muitos textos sem pé nem cabeça que existem exclusivamente para extravasar o excesso de informação que se acumula no meu cérebro porque se não, ao invés de navegar pelas minhas ideias, eu vou mais é me afogar. A fase de criação, de epifania, geralmente é frenética, é uma verborragia que parece que nunca vai acabar, e quando acaba é quando eu tenho as minhas revelações sobre coisas que eu nem sabia que eu mesma estava pensando e então eu me vejo com tanta clareza, tanta honestidade, tão nua e crua. É o meu momento mais sincero, e isso precisa ser lapidado antes de entrar em contato com outras pessoas.
Escrevendo é como eu consigo me expressar melhor, de forma mais articulada, sem pressa, onde realmente consigo transmitir o que eu quero dizer. Minha mente é bem caótica, minha dicção é péssima e eu falo muito rápido, essa é a combinação que me faz a pior oradora do mundo. Já a escrita é fluída, num primeiro momento pode ser vertiginosa, mas quase sempre tem espaço para revisão e edição, pode ser mania de poeta, mas até quando escrevo uma prosa eu me debruço sobre todos os significados possíveis de cada uma das palavras que eu quero usar, gosto de escolher com cuidado as representantes daquele estado de espírito que eu quero transmitir e vou lapidando até ter frases perfeitas, que melhor se comuniquem com quem estiver lendo. Naturalmente, todo escritor quer ser lido. A urgência de escrever vem primeiro da necessidade de expressar e depois da necessidade de ser entendido. Eu fui uma adolescente esquisita e ansiosa, tinha fome das duas coisas e uma mente insaciável, logo essa foi minha fase mais profícua como poeta.
O que me assusta hoje é que com o tempo eu me afastei um pouco dessa persona literária que eu construí durante meus anos mais fundamentais de formação de personalidade. Nem de longe tenho a mesma segurança dessa época, mesmo que nunca tenha deixado totalmente de lado meu ofício de escritora. Já mencionei outras vezes que essa newsletter é para me manter comprometida com a minha escrita, torná-la novamente uma constante na minha vida.
E eu vou publicar um livro. Nossa. Esse sempre foi meu sonho. Eu não consigo colocar em palavras como estou feliz com isso. É um livro de poesias chamado O Mundo Por Trás dos Vulcões, escolhi esse nome porque ele traz poesias sobre sentimentos altamente inflamáveis por trás de um exterior aparentemente calmo e imperturbável.
e quem consegue dizer
com precisão
o que se passa
dentro de um vulcão?há quem seja capaz
de precisar
o momento exato
da erupção?
Existem três coisas me deixando apavorada com isso e a primeira delas é que eu vou me expor amplamente e indecorosamente para quem quiser. Esse livro é a minha ferida aberta e eu tenho muito orgulho de cada verso dele, sei que tem poesias incríveis e profundas e, por mais que esteja genuinamente empolgada para compartilhar ele com o mundo, fica um certo receio de me despir assim, tão despudoradamente, mesmo que nem todos os versos sejam sobre mim, eles vêm de mim e por isso ainda são parte de quem eu sou, carregam um pedacinho do que eu trago no meu âmago. Claro que esse motivo sozinho não é suficiente para diminuir a minha felicidade.
O segundo motivo é insegurança, neurose e paranoia. Tenho medo de que meu livro não seja bem recebido, que as pessoas me achem uma boboca metida à poeta que não fala nada com nada, que eu não consiga bater a meta de pré-venda para que ele possa ser publicado, ou que ele até seja publicado, mas as pessoas achem meus poemas ridículos ou péssimos, ou que seja um fracasso e seja minha única obra e ninguém mais queira ler nada meu e eu veja esse sonho que mal deixou o cais naufragando em fracasso. O outro objetivo dessa newsletter é me manter próxima dos meus leitores, na tentativa de criar um público que goste de me acompanhar, goste da minha escrita, aprecie o que eu tenho pra falar e possa se interessar por outros livros que eu vá publicar futuramente porque realmente não desejo parar por aqui, em poesia e em prosa. Essa publicação me deu muitas perspectivas como escritora e tem me dado um gás absurdo pra me reaproximar da escrita, me manter ativa, pensante e escrevente como eu não conseguia ser há anos.
O terceiro medo é não conseguir sustentar essa persona literária que eu estou tentando resgatar. É uma possibilidade que me assusta mais do que a insegurança de não ser bem aceita. Ter tudo em mãos e perder por não conseguir manter uma constância é uma possibilidade e das bem reais. Postei nos notes outro dia sobre surtar semanalmente quando posto com medo de não conseguir escrever para a próxima semana, de não ter nenhuma ideia, ou de não conseguir desenvolver e acabar abandonando tudo mais uma vez.
Atualmente, essas são as minhas principais neuroses literárias. São monstrinhos que preciso derrotar diariamente, mas cada vitória é gigantesca, cada texto finalizado é um grande passo. Estou tentando diariamente me dar um voto de confiança e até aqui tudo tem dado muito certo. Essa semana atingi 20 subscritores, então um abração para vocês que estão lendo! Saiba que esse apoio é muito importante, afinal, todo escritor quer ser lido <3 Ficarei muito feliz se puder continuar contando com o apoio de vocês tanto aqui quando na aquisição e leitura dos meus futuros livros (sim, no plural!).
Aviso aos interessados:
O Mundo Por Trás dos Vulcões entra em pré-venda a partir do dia 18 de setembro, para maiores informações e para acompanhar esse processo quando ele começar a acontecer, siga meu Instagram 🙂
Em breve falarei mais a respeito dessa obra, da sua construção e estrutura, de como ela é importante e trago mais alguns poemas de spoiler para deixar vocês com muita vontade de ler tudo!
Nos vemos na próxima quarta feira.
Evoé!