Quem tem medo da carta da Torre?
Algumas reflexões sobre um dos Arcanos mais temidos do tarot.
“Saiu A Torre no seu jogo…”
Caos. Pânico. Desespero. Choro e ranger de dentes.
Em mais de 5 anos atendendo o público com o tarot, falo com tranquilidade que todo mundo odeia a carta da Torre.
É compreensível, afinal ela vem trazendo uma mensagem de caos e devastação, da chegada do inesperado e do não planejado, é uma carta que representa perder o chão sob os pés. Ninguém gosta de receber esse tipo de notícia, mas nem sempre isso precisa ser algo integralmente ruim, ela exige que você faça um esforço para enxergar as coisas em perspectiva. A verdade é que só sofre com a carta da Torre quem é teimoso demais para absorver as lições que ela traz.
Analisando a imagem que ela nos apresenta, vemos uma torre sendo atingida por um raio e ruindo, com duas pessoas sendo jogadas do topo dessa torre pela força do impacto e caindo em desespero na direção do solo. Essa carta essencialmente fala de mudanças estruturais e desconfortáveis pelas quais estamos passando ou precisamos passar e são aquelas que sempre vêm através de processos difíceis e intensos porque essa expansão é profunda e, em geral, permanente. É a desestruturação de alicerces sólidos, porém antiquados, para abrir espaço para uma renovação (guarde essa palavra).
Na terceira edição do Poetisas no Topo, a MC Luanna cantou que “pra escolher caminho dói, ficar parado dá na mesma” e quando a gente fica nesse limbo de não saber como fazer, como começar, qual rumo escolher nós disfarçamos a procrastinação com análise e planejamento, postergando a tomada de decisão, porque abraçar a mudança e escolher um novo caminho vai doer muito, mas ficar no mesmo lugar e permanecer a mesma vai ser tão doloroso quanto. É aí que A Torre vem pra resolver esse dilema, trazendo uma experiência esclarecedora, porém nunca é uma experiência suave e tranquila como um passeio no parque, é bruta e te desperta como um mergulho na banheira de gelo. É a carta que nos revela o que nem sempre queremos ver, mas precisamos; ir de encontro à verdade pode ser bastante doloroso, mas é necessário. Ao mesmo tempo uma benção e uma maldição, por isso ela apavora tanto as pessoas, nem todo mundo está pronto para esse confronto. Mas, se essa carta vem sendo recorrente nas tiragens de tarot é sinal de que está ficando difícil de ignorar esse evento iminente.
Resistir à mudança é permanecer pequeno
Agora vou te dizer uma verdade: A Torre dificilmente vem de primeira em alguma situação. As coisas que um jogo com o Arcano XVI mostra normalmente são frutos de outras oportunidades que deixamos passar de abraçar essas mudanças e absorver a lição do momento. Seja por medo, insegurança ou, mais comumente, pela falta de vontade de dar espaço para a mudança, essa inflexibilidade nos impede de ver como a vida é fluída e está em constante metamorfose e cultivamos o medo de romper padrões e abraçar um novo ritmo. Não entrar em harmonia com esse fluxo natural é o que nos causa a estagnação, o sofrimento e a frustração, e também o que ocasiona esses momentos regidos pela energia caótica da Torre e suas reviravoltas bruscas. Muitas vezes é só quando somos virados de ponta cabeça pela vida que percebemos que, afinal, desse lado das coisas também fazem sentido, talvez até mais.
Em meio a toda essa movimentação dentro e fora, surge a necessidade de rever algumas coisas: consciência, hábitos, ego, ambiente, métodos e objetivos. Surge o momento doloroso de precisar se julgar um pouco e analisar se as atitudes que você vem tomando pra sua vida realmente estão te levando para onde você deseja estar, te transformando em quem você almeja e ser e principalmente se você está gostando disso, se faz sentido pra você. É momento de se despir de tudo isso e se encarar do jeito mais cru possível, somente assim é possível pavimentar um caminho de aceitação verdadeira de quem somos e das consequências que nossos atos causam para, dessa forma, como os hindus e budistas acreditavam, transmutar seu karma (dívida, consequência, lição) em dharma (compreensão do propósito, elevação e paz de espírito através da harmonia plena consigo, sua verdade e a conciliação desse universo interior com o ambiente material que te cerca e com as leis do Universo).
O karma nada mais é do que as consequências dos seus atos e, se essas consequências não estão sendo satisfatórias, é hora de rever o que você vem fazendo para chegar nesses resultados porque pode ser que o que você passou muito tempo fazendo não faça mais sentido para você e esteja atrapalhando de alguma maneira sua vida. Tudo bem mudar de caminho, afinal quanto mais tempo se passa no trem errado, mais cara vai ficando a viagem de volta para casa.
A Torre vem alertando para isso de um jeitinho todo especial, bagunçando cada cantinho da sua vida e te obrigando a fazer essa revisão na marra. Você pode se debater contra, em negação, ou pode buscar formas de se adaptar ao novo ritmo das coisas porque esse é um convite à reestruturação das suas bases, à uma percepção profunda do que precisa ser revolucionado na sua vida e dentro de si mesma. Escolher o caminho da Torre demanda coragem, desprendimento e determinação, mas promete recompensas extraordinárias uma vez que você consiga ir até o final e concluir esse ciclo (não é à toa que o arcano seguinte a Torre é A Estrela, mas nós podemos falar disso outro dia).
Renovação não é reforma
Existe um princípio alquímico conhecido pela máxima solve et coagula, ou seja, dissolver e coagular e a carta da Torre é, essencialmente, sobre isso. Reformar é dar um jeito no que já existe. Renovar, reestruturar é pôr abaixo e construir do zero (ou quase).
Assim como as fibras musculares precisam se romper com o esforço para se reconstruírem mais fortes, às vezes a gente precisa se quebrar, se dissolver por completo, volver para dentro de nós mesmos para poder coagular e se reagrupar mais fortes e conscientes antes de retomar a caminhada. Tudo precisa ser desmanchado para ser reconstruído e não há reconstrução antes da demolição.
Muitas vezes não foi o mundo ao seu redor que mudou, foi você, por dentro, sem nem se dar conta, e de repente tudo à sua volta parece fora do lugar, desconfortável e terrivelmente errado e você nem sabe de onde isso vem. Essa carta vem como um convite para você se alinhar com o que mudou dentro de você e fazer as renovações necessárias no exterior para se alinhar com essa nova verdade. Vamos dizer que A Torre é uma prima distante e caótica do Arcano XIII, A Morte. Geralmente A Morte precede A Torre em questão de conselhos e avisos. Quando você ignora o movimento voluntário de mudança da Morte, A Torre vem te tirando do chão e te colocando à força no caminho dessa mudança, ou plantando a mudança no seu caminho.
O fato é que nem sempre a gente quer, mas a gente precisa passar por mudanças. Tem coisas que vão sair da nossa vida por mais que a gente não queira só porque não cabem mais ali, e não digo no sentido de não haver espaço, mas de não haver um lugar onde aquilo se encaixe e pertença de verdade. A mudança é a força propulsora do amadurecimento e crescimento, faz parte da evolução e é preciso se permitir dizer adeus para as coisas, para os ciclos, as conexões e ambientes que não são mais compatíveis.
E tá tudo bem!
A partir do momento que a gente relaxa e se permite estar presente ali e se encontrar naquelas novas condições, descobrimos um universo inteiro a ser desvendado e do qual podemos fazer parte, basta deixar ao invés de se debater contra e gastar energia se esforçando para se encaixar em um lugar que você não cabe. A Torre vai te martelar até você entender.
Transições são bem difíceis, todo o processo de aceitar a necessidade da mudança, refazer os planos, tentar encontrar com os olhos esse novo horizonte… e nada. Tudo incerto, tudo fora de alcance. É preciso confiar, primeiro em si mesmo. Depois na vida. Ou no Sagrado que você crê, nas energias que te regem, nos invisíveis átomos milenares que compõe seu corpo. Mas depois que a gente se acostuma com esse novo ritmo, a gente começa a entender e tem todo aquele papo de há males que vêm para o bem e a frase do Renato Russo que vem dizendo “Quando tudo parece dar errado, acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo.”
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