Trilha sonora sugerida: Maré - Budah
Acho que já mencionei por aqui que eu não gosto de ficar vendo minha sorte nas cartas, seja eu tirando para mim mesma ou me consultando com outras pessoas. Acredito que a ignorância é uma benção em muitas situações e eu também sou teimosa pra seguir o conselho das cartas, acabo fazendo o que eu quero e SEMPRE quebro a cara, então chego à conclusão que se for pra saber e ainda assim fazer merda, é melhor simplesmente não saber, entende?
Acontece que tem uma amiga minha que às vezes posta uns conselhos de tarot nos stories (beijão, Lu!) e eu gosto de participar. Certa vez me bateu demais a carta que eu escolhi, literalmente um tapa na minha cara e era bem o que eu precisava naquele momento, de certa forma confirmou coisas que eu já estava pensando. Resolvi participar de novo em um desses últimos dias aí, então escolhi minha carta de conselho. Muitas coisas têm estado às avessas ultimamente e ter estado na posição de consulente, de ouvinte da mensagem ao invés de mensageira sinceramente tem feito muito sentido pra mim, mais do que costuma fazer.
Recebi A Sacerdotisa, Arcano 2 e ela aconselhou que eu me alinhasse com o meu interior, ouvisse a voz de dentro pra poder perceber os sinais do universo, que eu preciso calar um pouco o que vem de fora porque eu posso ser meu próprio oráculo e encontrar respostas por conta própria, descobrir meu próprio caminho. A Sacerdotisa é assim, introspectiva, fechada, intuitiva e extremamente auto suficiente.
Vocês não têm noção da ironia disso, porque muitas das vezes eu reparo nas minhas consulentes essa necessidade de ouvir de fora para confirmar algo que elas já sabem lá dentro, ou fazer um jogo de tarot “só pra ter certeza”. Na verdade isso quase sempre acontece quando nós não gostamos das conclusões que chegamos pensando sozinhos e buscamos desesperadamente alguma coisa que nos contradiga ou ofereça uma alternativa. Outra possibilidade, é quando estamos inseguros a respeito do que precisamos fazer em determinada situação e queremos um incentivo, uma validação externa para prosseguir. A Sacerdotisa fala muito sobre calar o mundo exterior e dar voz ao seu eu interior e confiar no que vier dali, é sobre ouvir a sua intuição e se abrir para a conexão com o universo, recebendo dele os sinais e confirmações que você precisa sem que mais ninguém precise dizer o que fazer. Mas isso só é possível quando você está em sintonia com seu eu interior.
Tem coisas que não adianta a gente buscar do lado de fora, a melhor e mais acertada resposta só a gente consegue encontrar e é buscando do lado de dentro. Tem muita coisa que passa batido porque a gente tem dificuldade para olhar e entender.
É irônico que de repente eu estivesse justamente nessa situação de insegurança diante da ação e mais irônico ainda só o fato de que eu precisei que alguém me apontasse isso e falasse eiii, vamos voltar pros eixos? Saramago disse que é preciso sair da ilha para ver a ilha, então talvez seja só quando a luz do olhar de fora nos atinge que conseguimos ver a nós mesmos em panorama, é uma peça externa do quebra cabeça que não faz parte dele em si, mas ajuda a juntar as peças da imagem. Então eu percebi que o tarot é se reconhecer um pouco através das palavras de outra pessoa e nunca me senti tão acolhida em posição de consulente como naquele momento.
Acontece que eu me encontrei muito nesses últimos meses, mas eu também me perdi de mim mesma em alguns pontos porque a vida é isso, constantemente se redescobrir e se reinventar e se reconhecer. Senti essa carta como um chamado pra voltar ao centro de mim mesma, que era necessário voltar para o casulo e calar o mundo um pouquinho porque minha vida é minha.
Escrevi essa poesia quando estava de mudança, lá pela metade de 2022, saindo de um bairro para o outro, o clássico dilema paulistano de morar um pouco mais longe, porém em uma casa um pouco melhor. Todo esse processo porre de mudança aconteceu logo depois de eu ter terminado um relacionamento de dois anos, então esses meses do meio do ano foram um período de muitas transformações na minha vida. Eu sempre detestei mudar de casa, descobri quando saí da casa dos meus pais. Desde então, todas as vezes que preciso mudar de casa, pensar em carreto, em gastos, em logística, visitar casas diferentes, calcular tempo de deslocamento para lugares importantes e todas essas chatices que vêm de brinde com a mudança, eu passo um curto período no inferno surtando de ansiedade, preocupação e coisas negativas. É o preço que se paga por morar de aluguel.
Sou o tipo de pessoa que opta por se isolar um pouco quando está aflita, pelo menos no início, pra eu me acostumar com aquilo. Eventualmente, acabo dividindo um pouco da minha aflição com pessoas próximas, mas isso só é possível quando eu mesma já me familiarizei com ela. Então, quando tudo fica movimentado demais e tem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo dentro e fora de mim, urge esse instinto borboletal de me recolher num casulinho até estar pronta para me integrar à nova realidade.
Curioso é que eu tenho até um pouco de medo de borboletas. Talvez inconscientemente eu também tenha medo de mudanças, afinal é isso que elas representam na simbologia. É difícil mudar a direção, é desconfortável, mas nos lembra de que estamos vivos. Estamos em movimento e isso é a vida, às vezes é complicado o processo de me sintonizar em um novo ritmo, mas tem coisas que a gente simplesmente não consegue lutar contra então é preciso dançar conforme a música, encontrar um jeito de se infiltrar naquele fluxo e a transição é super desconfortável, mas necessária.
Acho que é do meu processo recuar antes de avançar. Às vezes o progresso se disfarça em passos para trás. Voltar pra mim e depois expandir. Solve et coagula, do latim dissolver e coagular, princípio da alquimia que falava sobre pegar a matéria bruta e a transformar em ouro. Outra coisa curiosa é que eu tenho essa frase tatuada na coxa e nunca associei isso tanto à minha forma de agir até essa miríade de pensamentos que me arrebatou depois da mensagem que a Sacerdotisa trouxe. Sempre me perco em divagações esotéricas. Fiz um texto de temática semelhante na semana passada, essa máxima de dissolver e coagular conversa bastante também com a carta da Torre, te convido a dar uma lida clicando aqui.
Nem sei como encerrar essa edição, então vou deixar uma das minhas poesias favoritas do Leminski.
Contranarciso
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenaso outro
que há em mim
é você
você
e vocêassim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
⚠️ Informes informais:
📝 Ninguém nasce borboleta é um dos poemas do meu livro, O Mundo Por Trás dos Vulcões. Se quiser conhecer mais da minha poesia e adquirir a versão física ou digital, clique aqui!
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Que texto forte! Intenso!