Uma porta entreaberta dói muito mais do que uma fechada.
É isso, essa é a newsletter de hoje. Grande beijo!
Eu uso muito essa frase com as minhas consulentes do tarot que estão sofrendo por pessoas que não fazem questão nenhuma de estar na vida delas, mas insistem em ocupar o espaço de alguma forma, mesmo sem estar de fato ali. Aquelas pessoas que não fodem, mas também não saem de cima, e com isso criam uma porta entreaberta.
A situação de porta entreaberta é quando alguém não está realmente presente e nem realmente ausente na sua vida, e sim em algum lugar no meio do caminho. Ou quando alguém dá uma saída, dizendo que já vai voltar e não precisa trancar a porta, mas não volta nunca, só manda notícias distantes. Para a pessoa que fica, a porta transforma-se num limbo, é impossível saber como agir nessa situação. Trancar a porta, por segurança? Realmente aguardar o retorno do outro, manter o lugar reservado? Deixar a porta entreaberta mesmo e sair pra dar uma volta? Fugir? Como saber o que fazer? Como saber o que o outro vai pensar da nossa atitude? Que aflição!
Uma coisa curiosa no caso das portas entreabertas é que sempre quando surge um movimento de fechamento dessa porta por parte da pessoa que ficou, vem uma batidinha. Chega uma carta com notícias. Um lembrete de que ainda existe uma pessoa do outro lado, que pediu pra você guardar um lugar pra ela porque já voltava. Hesitação. Será que não vale a pena esperar um pouco mais? Afinal, o que custa guardar um lugar?
A resposta é: custa muito. Custa tempo de vida, saúde mental, oportunidades que você deixa passar por estar vigiando o movimento daquela porta que não está nem aberta nem fechada, mas que balança quando passa o vento, dando a impressão de que tem alguém chegando. Ficar presa à mercê do outro, esperando que algo aconteça é pedir para viver em frustração. A paciência nem sempre é uma virtude, às vezes é burrice, teimosia.
Portas fechadas são para pessoas bem resolvidas, que trancam a porta e devolvem a chave.
Com a autorização de uma amiga e consulente de longa data, que vou chamar de V, eu trago um causo que chegou na minha mesa de tarot um dia desses e exemplifica perfeitamente essa situação. Inclusive, foi a grande inspiração para escrever esse texto (beijos, amiga!).
Enfim, ela queria entender porque era tão difícil pra ela romper com o atual ficante enrolado. Ela sabia que a situação deles não fazia bem pra ela, mas ainda assim encontrava grande dificuldade em largar de mão e seguir em frente. A história dela foi uma das muitas situações de porta entreaberta que chega na minha mesa procurando orientação das cartas. Ela me mandou um áudio mais ou menos assim:
“Carol, pra mim não faz sentido. Foi tão simples com o meu ex namorado, o Beltrano, que não foi metade do canalha que o Enrolado está sendo, esse rapaz que vamos ver no jogo. Com meu ex namorado de quase três anos, eu consegui terminar numa boa! Eu fui até ele um dia quando tive a certeza e falei: ‘olha, Beltrano, acho melhor a gente terminar porque não estamos mais dando certo’, ao que ele respondeu ‘ok’ e depois disso praticamente não nos vimos mais! Mesmo triste, eu fiquei em paz com o término de dois anos de namoro. Por que está sendo tão difícil me afastar agora, com esse cara Enrolado que eu conheço há menos de seis meses?”
Fiz um jogo simples para comparar as duas situações de término e a resposta das cartas foi a seguinte:
O ex naomorado deixou bastante claro para ela que não queria mais estar ali. Pode ser que não tenha dito com todas as letras, mas era explícito nas suas atitudes, ficava óbvio que por ele não estariam mais juntos. Em algum momento, V. conseguiu ter a certeza de que nada mais floresceria daquele relacionamento. Pra ela foi fácil perceber isso porque ele deixou evidente o que ele queria. Talvez ela tenha demorado um pouco para entender porque ele nunca chegou a falar com todas as letras, mas quando ela conseguiu compreender e aceitou a situação, foi fácil. E eles nunca voltaram atrás. Porta fechada. Ele pode não ter trancado e devolvido a chave, mas com certeza bateu a porta ao sair e não fez questão nenhuma de levar a chave com ele.
Já o enrolado demonstrava profundo comprometimento, preocupação, iniciativa e envolvimento na relação, mas só até certo ponto. Ele agia e falava como se de fato quisesse ocupar aquela posição, exceto quando essa posição lhe era oferecida, ou quando havia algum ato de responsabilidade envolvido. Ia e voltava constantemente, geralmente quando percebia V. se afastando e deixando de orbitá-lo. Mantinha no ar uma expectativa, como se só faltasse uma coisa, um elemento que precisava encontrar o seu lugar para que tudo mais também se encaixasse e passasse a fluir suavemente, sem solavancos, sem incertezas, mas essa coisa nunca acontecia. E nenhum dos dois parecia saber dizer o que era que faltava. Era o suficiente para que não fosse um nada, mas nunca o suficiente para que fosse algo. Porta entreaberta. Incerteza. Batidinhas quando havia uma sugestão de trancar.
Ela, por não saber como agir, apenas esperava, deixando o tempo correr enquanto guardava um lugar pra ele dentro da vida dela sem nem ter certeza se ele compareceria. Enfim, não sei o que ela fez com essa informação, mas me agradeceu bastante, trocamos um papo depois da consulta e até agora ela ainda não marcou nenhum jogo para eu saber o desfecho.
O fato é que foi mais fácil pra ela desistir de uma porta claramente trancada do que estava sendo com uma entreaberta. Acredito que a sedução desse limbo, o que te mantém ali presa naquela incerteza, na expectativa, na posição de prontidão e espera constante é que portas entreabertas trazem consigo o assombroso “mas e se...”. E se desse certo? E se dessa vez fosse A Vez?
Algumas pessoas indecisas, narcisistas ou com baixa autoestima podem usar desse recurso para te manter próxima o suficiente para alimentar o próprio ego, mas não próxima demais a ponto de se sentirem presas ou sufocadas. Desfrutando da liberdade de irem a hora que quiserem, orbitando em uma distância segura para que possa continuar fazendo o que bem entender sem retribuir a atenção ou arcar com qualquer tipo de responsabilidade afetiva. O famoso venha a vós e ao vosso reino nada.
OFERTA E DEMANDA
você é assim,
tão pequeno
enquanto eu vivo
vidas inteiras,
dentro do seu próprio
peito frágil
você tenta em vão
encontrar alento.enquanto eu jorro sentimento
e me exponho sem medo
de escancarar meu coração
já bastante frágil,
você simplesmente
não se deixa
ser um pouco vulnerável.enquanto eu
te guardei no peito
e deixei você
fazer morada,
você nunca se permitiu
baixar a guarda
e deixar ser.você não sabe dar
e não tem limite algum
pra receber.
(poema meu mesmo <3 pra saber mais da minha poesia, segue a leitura…….)
Tudo que deixa espaço para a imaginação acaba virando uma tortura.
Digamos que eu sou uma especialista em situações hipotéticas, dentro do meu trabalho como cartomante, eu ouço muitos E se…? durante o dia. E se eu tivesse feito tal coisa, teria sido diferente? Se eu não tivesse dito aquilo, estaríamos juntos? Se ele não tivesse conhecido fulana, ainda namoraria comigo?... e dezenas de perguntas como essas, todos os dias, remetendo ao passado, algumas sobre futuro também, mas é do passado que eu quero falar.
Sempre que alguém pergunta sobre um possível desfecho diferente para alguma situação ou traz pra mesa qualquer pergunta sobre passado, eu tento explicar de forma educada que até posso responder àquela pergunta, mas que, provavelmente, seria um desperdício de dinheiro. “O que você vai fazer com a resposta? No que vai mudar o presente?”, eu questiono. Geralmente, essa pergunta é seguida de um silêncio reflexivo, então eu ofereço uma alternativa de pergunta focada no presente ou futuro, ou algum tipo de conselho das cartas para lidar com a situação. Por incrível que pareça, muita gente vem pra se torturar com a cartomancia ao invés de buscar conforto.
E é tortura ficar comparando a realidade sólida das coisas que são com as coisas que poderiam ter sido. Tudo é muito fácil e lindo no mundo da idealização e quase todo sofrimento vem da desconexão com o presente e de uma teimosia em não aceitar as coisas como são. Nesse caso específico da porta entreaberta, esses limites entre que é real e o que é idealização são bem turvos e indefinidos, o que torna esse tipo de relacionamento extremamente perigoso porque a pessoa te alimenta com meias palavras e você se encarregar de desenhar o resto do cenário. Na eventualidade de tudo despencar e você se magoar, você ainda sai como errada por ter criado tanta expectativa.
Outra situação que acontece bastante é quando o outro é direto e objetivo e ainda assim a gente insiste em fantasiar que existe algo oculto por trás das palavras. Parece que as pessoas estão acostumadas com amores meia boca e a se relacionar com aqueles que escondem o jogo ou brincam de desinteresse. Sempre é chocante quando alguém tem a coragem de realmente falar e agir de acordo, sustentar o que foi dito com as próprias atitudes.
Eu tive muitas (muitas MESMO) situações da consulente chegar dizendo que “Fulano disse não querer nada sério comigo, mas gostaria de saber quais as reais intenções dele”. E daí quando as cartas mostram que Fulano realmente não quer ter nada sério, só uma transa garantida e um papo bacana, a reação é essa:
Escrevi um texto alguns dias atrás falando um pouco de expectativas, do porquê idealizamos as coisas e o motivo pelo qual esse hábito nunca vai nos deixar ser feliz. Se quiser dar uma olhada, leia aqui.
Relacionamentos não precisam ser tão complicados. Não deveria ser tão difícil falar algo e agir de acordo, ser claro nas intenções e aberto para conversas esclarecedoras.
Claro que nem sempre é possível ter um desfecho, mas independente disso, encerrar ciclos é importante para nós mesmos e para o outro. Às vezes vamos encerrar ciclos mesmo sem ter todas as respostas que desejávamos, mas desde que esses limites estejam bem definidos a tenhamos a certeza de que aquela porta realmente está fechada, podemos encontrar paz e caminho para coisas novas. E vale pra outra pessoa também. Então, se aquela pessoinha nunca mais apareceu não tenha dó, deixe que dê com o nariz na porta que você trancou.
Acho que as considerações finais deste texto vão em forma de conselho (meu, não das cartas):
Deixe que as atitudes pesem mais do que em palavras, porque falar até papagaio fala. Fuja de quem vive em cima do muro, de quem não vem nem vai e fica empacando o fluxo da sua vida e, o mais importante, quando você sair da vida das pessoas, tranque a porta e devolva a chave.
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