Poesias Selvagens foi o nome que eu dei para o meu primeiro zine, porque são poesias feitas para correrem livres por aí.
“Sempre acreditei que a poesia nasce de um desejo súbito; uma visão momentânea que capturamos e, se possível, transferimos para o papel. Por isso mesmo - pela sua inerente liberdade - [...] o poema deveria ter a oportunidade de um destino próprio.”
- Fausto Wolff
Em um texto antigo dessa publicação sobre poesia marginal e as raízes da publicação independente, mencionei rapidamente algo sobre zines e a produção de contracultura que acontecia em nosso país da década de 70, próximo do fim da ditadura militar, e como artistas da época faziam para suas obras circularem abaixo do radar da censura e da grande mídia.
Mas a história dos zines remonta à mais cedo ainda no mesmo século, aproximadamente a partir da segunda metade da década de 19101. A palavra deriva de fanzine, que por sua vez deriva da fan magazine, publicações pequenas, autorais, de poucas cópias e produzidas à mão de forma quase artesanal, em um estilo caseiro bem característico.
As primeiras publicações nesse formato começaram a circular nos Estados Unidos a partir de fã-clubes de ficção científica e corriam com textos, atualizações, novidades e artes de fãs para fãs. Ganhou uma forte identificação no Reino Unido, onde se coalizou com o movimento punk nas décadas de 1970 e 80. Abrangendo tópicos relacionados à arte, música, poesia e política, entre outras coisas que não eram tão interessantes para os grande veículos de mídia, os zines se popularizaram e se tornaram o principal meio de propagação de cultura underground.
Aqui no Brasil, ganhou popularidade na década de 70 com a poesia marginal e até hoje é amplamente utilizado por poetas que buscam uma forma econômica, alternativa, original e íntima de se conectar com seu público. Geralmente vendidos no esquema “pague o quanto acha que vale”, são amplamente comercializados em eventos de rua como slams, saraus e batalhas de rima.
Meu primeiro contato com esse universo foi entre 2016 e 2017. Eu já escrevia poesia, mas não mostrava para muita gente porque morria de vergonha, me sentia pelada na frente de outras pessoas expondo a minha escrita. Conhecia um pouco dos zines porque já era fã de Paulo Leminski e dos poetas marginais. Uma amiga me convidou para ir em uma batalha de rima só de mulheres, a Batalha Dominação. As batalhas de rua estavam se popularizando bastante nessa época e eu já admirava de longe esse movimento, sempre gostei muito muito de hip hop e tinha contato com alguns movimentos de militância, ou seja, era um ambiente que cruzaria meu caminho mais cedo ou mais tarde, afinal eu também já era poeta.
Eu não batalhava, nunca tive cabeça para improvisar e eu gosto de pensar com cuidado nas minhas palavras, na construção do meu poema, mas aproveitei algumas oportunidades do mic aberto2 para soltar algumas poesias que eu escrevia, mesmo apavorada com a exposição. Era um ambiente que ao mesmo tempo me acolhia e me intimidava, do qual eu queria fazer parte, mas temia não me encaixar ao mesmo tempo.
Comprei meu primeiro zine em uma das edições da Dominação e fiquei encantada com aquela revistinha poética porque era algo lindo e simples. Queria fazer igual e até cheguei a rascunhar como seria o meu livrinho, tentando entender como dobrar a folha ou organizar a disposição das páginas para ficar do jeito que eu queria, mas foi um projeto que não foi pra frente. A dificuldade maior para mim seria a parte de chegar oferecendo para as pessoas: eu ainda era bastante tímida, então me contentava em admirar de longe. Eu era bem mais nova e muito insegura para me expor assim.
Meu estilo de poesia nunca foi realmente culto, técnico e erudito justamente porque tive uma influência bem forte da poesia de rua. Ao mesmo tempo que tenho uma influência forte demais dos poetas clássicos para ser completamente poeta de batalha. Acho que sou algo entre os dois e gosto disso, é a minha versão moderna de ser um samurai malandro igual meu grande ídolo poético Paulo Leminski foi.
O Poesias Selvagens veio pra espalhar minha poesia por aí, deixar ela correr livre e selvagem, para divulgar minha escrita, essa newsletter (que é para onde o QRCode da contracapa direciona, aliás) e o meu livro, que será lançado em breve. Vem também da vontade em pertencer um pouco mais à um movimento que eu admiro muito e que faz eu me sentir acolhida que é a poesia de rua.
Voltar a frequentar esses ambientes tem sido incrível e uma troca muito rica. É inspirador estar cercada de poetas, passar algumas horas ouvindo tantas rimas incríveis e fomentar essa cultura. Se você for de São Paulo e gostar desse tipo de evento, pode ser que nos encontremos por aí qualquer dia desses!
Como não dá pra viver só de prosa, as Poesias Selvagens ganharão algumas edições próprias nessa newsletter babilônica nas próximas semanas.
Meu livro O Mundo Por Trás dos Vulcões chegou em casa na última quarta feira! Depois de um dia cansativo e estressante no trabalho, meu vizinho disse que o filho dele havia recebido um pacote meu. Eu nunca vibrei tanto na minha vida como quando o rapaz vinha descendo a escada com a caixa nas mãos, tenho certeza que ele se assustou com meu sorriso delirante. Que momento alegre! Que realização! Não consigo parar de sorrir desde então. Esse livro é a materialização de um sonho muito antigo e eu sei que a Carol de 13, 14, 15 anos ia estar extremamente feliz, orgulhosa e realizada com isso. Muito dessa conquista é por causa dela, que sonhou primeiro em ser publicada. As pessoas vão te ler agora, Carol! Você é uma escritora agora. Suas palavras estão no mundo pra quem quiser. Você conseguiu.
Sabe aqueles exercícios psicológicos bobos que te pedem pra imaginar se você se tornou uma pessoa que seu eu mais jovem admiraria, se sentiria segura e tomaria como exemplo? Eu tenho certeza que eu me tornei essa pessoa para o meu eu do passado.
Estou agora aguardando as instruções da editora, o envio das etiquetas para a postagem e o repasse do valor referente ao frete das entregas para os leitores. Fique por dentro de todas as futuras novidades:
Se quiser saber um pouco mais sobre o meu livro, como ele se originou e a essência por trás das poesias, recomendo ler essa edição aqui.
Vou encerrar essa news deixando mais algumas páginas do meu zine que, modéstia à parte, ficou uma gracinha. Todas essas poesias você encontra no Mundo Por Trás dos Vulcões. Em breve disponível para compra no site da TAUP <3
⚠️ Informes informais:
📝 Já mencionei que estou com todos os meus livros em mãos? 🤩 Assim que tiver as informações a respeito da postagem, compartilho com vocês! Mais uma vez obrigada a todo mundo que apoiou esse sonho desde quando era um embrião.
💭 Nos vemos na próxima edição! Até lá, não deixe de me contar tudo o que você pensa:
Fonte: https://mixam.co.uk/blog/education/what-is-a-zine
Momento da batalha de rimas antes ou entre as rodadas da competição onde o microfone fica “aberto”, livre para qualquer pessoa presente apresentar sua arte, música ou poema sem estar dentro da competição.
Vc sempre arrasando... Todo sucesso filha!!! Te amo ❤️❤️❤️❤️❤️❤️